Entrevista sobre o Rap em Campina Grande com o Produtor Musical da 189 Records Dj Joh
Dj Joh produtor musical do estúdio 189 Records, um dos pioneiros do movimento HIP-HOP na Paraíba, fala sobre a cena do Rap na cidade de Campina-Grande.
Com o advento das redes sociais, estamos presenciando um fortalecimento da cena do Rap em todo Brasil. Hoje, como você enxerga a cena do Rap de Campina Grande?
A cena do rap em CG está seguindo uma tendência mundial que é a popularização de grupos e pessoas que fazem rap. Desde o desenvolvimento de tecnologias de baixo custo, vem se popularizando os Home Studio e isso deus acesso a muita gente produzir onde antes o acesso era restrito, eu estou falando de 30 anos, e juntando isso ao lance da internet, foi tudo uma química perfeita para hoje a gente ter o chamado acesso tanto de gravação como de divulgação, em campina as coisas demoraram a chegar mais chegaram e estão com tudo. Hoje agente tem batalhas de MCs acontecendo praticamente todos os meses, as coisas estão bem melhores do que eram antes.
O rap sempre foi conhecido pela forte influência política de suas letras. Para você como o rap de campina poderia ser útil nessa crise política?
Eu acho que o um dos papeis do rap é informar, só que tem rap que desinforma também, como todo seguimento, tem um lado bom e tem um lado ruim. Se você for ver tem gente fazendo rap que só piora essa crise, essa separação de classes, rap quase nazista, de outro lado tem o rap com aquele lance de exaltação do crime e contra a polícia, hoje existe vários seguimentos no rap, a parada meio que se perdeu um pouco de ideologia, são poucos os que carregam a bandeira, e quando eu falo de bandeira, falo da bandeira da luta da classe social mais desfavorecida, dos que não tem uma casa, dos que não tem educação, dos que estão presos inocentemente em um presidio, de uma luta contra uma justiça falha que só pune os pobres. Essa bandeira existe e ajuda a informar muito, mas não podemos deixar de ver que existe o outro lado como músicas mandando uma mensagem errada
As músicas vendidas pela indústria cultural geralmente caminham para a ausência total de reflexão em suas letras. O Rap mesmo indo na contramão dessa tendência pode chegar a ser um estilo atraente ao consumo?
Eu acredito que para a grande massa não, a grande massa é uma coisa difícil de se entender, cada vez mais as músicas, mesmo aquelas que estão no top 10 da rádio, estão mais vazias, na verdade eu não acho que o rap está indo na contramão, digo, tem muito rap vazio agora e eles estão competindo de igual pra igual ai no mercado com a música pop, agora o rap real, o rap verdadeiro esse ai eu não vejo como atraente ao consumo, quando um rap entra em um prateleira de supermercado ele já está contaminado, não é mais rap real, o rap original, na essência quando tocado pelo mercado perde muito e deixa de ser real, eu estou falando do grande mercado dos milhões, agora dá pra se manter de boa e ganhar dinheiro também com o rap real, não muito, mais dá.
Você acha que músicos como Criolo e o Grupo Racionais MCs estão inseridos dentro de qual tipo de Rap desses que você citou?
Racionais é um dos poucos fenômenos na música pop que veio da cultura de massa, e depois virou cultura de mídia, Criolo foi inserido para o grande público através da cultura de mídia.
O seu trabalho como produtor tem sido de imensa importância na cena da Paraiba. Na sua opinião, quais são as principais promessas do rap de Campina Grande agora em 2016?
Maior responsa essa resposta aí, mas vamos lá. As promessa para mim ficam com o Saudosa Maloka , Yoshida mc , Mazu MC ,L7, Mago MC e Deto MC
Alguns grupos e artistas tem obtido muito lucro com o Rap. Você acha que esses grupos deveriam se juntar para fazer mais pela comunidade já que o governo ignora as periferias?
Acho que sim, não precisa nem se juntar, basta cada um fazer sua parte, não só grupo de Rap , mais todos no geral tem que fazer sua parte, cada um de nós, se a gente quer mudar as coisas tem que partir de nós essa atitude. O governo está aí, mas não é um ser supremo, o governo somos nós, são nossos representantes que estão ali, não é só cobrar temos que fazer também.
Alguns artistas como Nocivo Shomon, Felipe Ret, Emicida entre outros já se referiram a cena do Rap como uma cena repleta de vaidade. Essa competição que se instalou no rap pode ser considerada saudável ou maligna?
Totalmente maligna, é um querendo derrubar o outro e isso não é bom, é a guerra dos egos, o meio artístico no geral tem isso, não só no rap, talvez no rap isso fique mais evidente mais acontece em todo meio artístico.
Duas das mensagens principais do Hip-hop é a união e a paz. Você acha que esta tem sido as mensagens transmitidas pelas bandas que estão no main-stream?
Não, poucos mandam essa mensagem, eu coloco Criolo e mais 5 no máximo, o resto não prega nada, só fala besteiras e mete ideia errada.
Hoje o hip-hop é um dos estilos mais populares nos Estados Unidos. Você acha que essa realidade está muito distante daqui do Brasil?
Não, acho que está bem próximo de acontecer, se você for olhar o próprio funk é hip-hop, ele se abrasileirou, mas é o Miami Bass, sem contar que hoje tem rap em trilha de novela da Globo, as coisas estão acontecendo, atrasadas, mas estão acontecendo
O Funk sem dúvida é um fenômeno popular com alto poder de propagação. Na sua opinião o que falta para que os Mcs do rap e os Mcs do Funk utilizem esse ritmo com letras mais políticas?
Não falta nada, é só questão de fazer uma escolha difícil, cantar porcaria e ganhar dinheiro ou seguir uma linha correta e não ganhar dinheiro, é difícil, existe a possibilidade de conciliar fazer música boa e ganhar dinheiro, mas é muito raro, o mercado exige coisas fáceis, fúteis e descartáveis, e sempre vai ter alguém para fazer.